segunda-feira, 8 de junho de 2009

O protagonismo da mulher e sua ação libertadora ontem e hoje


O grão pequeno, mesmo sem ser visto, germina, cresce, fecunda e gera vida... Partindo dessa certeza, desejo fazer um resgate histórico do papel da mulher na sociedade e em seus diferentes setores; a partir desse panorama temporal podemos perceber que muitos são os trabalhos significativos deixados por ela ao longo dos tempos. Durante séculos se atribuiu o conceito de trabalho feminino apenas àquele que se fazia no lar: afazeres domésticos, educação dos filhos. Contudo, hoje sabemos que tal conceito é irreal, pois tanto no passado como no presente as mulheres têm trabalhado durante toda a sua vida em vários âmbitos, inclusive eclesial, deixando assim sua marca sutil, que pouco a pouco vai tornando-se visível.

O papel da mulher na Igreja é um tema muito importante e talvez pouco discutido. Atualmente, na vida de nossas comunidades, há situações extremas que deveriam levar-nos à reflexão: em alguns lugares a mulher não pode subir ao altar ou até mesmo falar durante o encontro; em outros, ao contrário, é a líder da comunidade, que depende de sua perseverança para subsistir. É ela quem ensina a palavra de Deus; é ministra da eucaristia, catequista, pastora e assim por diante. Essa é a situação atual. Penso que no tempo da Bíblia não era diferente: existiam situações distintas e, às vezes, contraditórias.

O protagonismo feminino já aparece no Antigo Testamento: pensemos personagens como Miriam, Débora e Hulda. Além delas, no Novo Testamento, temos as “Marias” que acompanhavam Jesus, Priscila em Atos, Febe, que em Romanos é considerada uma diaconisa. É evidente que Paulo, quando escreve aos coríntios (1Coríntios 11,3), apresenta como natural o papel da mulher na assembléia, onde ora e profetiza. Hoje, as profetisas estão saindo do anonimato e rompendo a cadeia da exclusão.

Não podem ficar de fora dessa reflexão as milhares de mulheres que fazem história em nosso continente, em nossa Igreja e no mundo afora. Cada uma a seu modo, com sua cultura e expressão, vai rompendo “as algemas” e mostrando a cara e a voz, fazendo assim como a semente pequena e discreta que traz, dentro de si, vida... Estamos falando de mulheres que não aceitam a ditadura da beleza imposta pela mídia e quebram as correntes da violência doméstica, libertas e provocadoras de mudanças, protagonistas nas coisas simples da comunidade, mas também capazes de construir redes de solidariedade, partilha e ajuda mútua, “mulheres que assumem a defesa de seu povo com coragem e firmeza” (Jz 5, 28-30) e não ficam passivas a esperar.

Parece-nos normal ouvir dizer que os profetas estão mudos, ninguém anuncia ou denuncia mais. Retomo uma pequena parte do texto Mulheres e Profetismo – CEBI (Centro de Animação Bíblica) que poderá ajudar-nos nessa reflexão, ressaltando o protagonismo e profetismo de tantas mulheres de ontem e de hoje: “Será que os profetas sumiram ou será que é a vez e a voz das profetisas que estão sobressaindo? As mães da praça de maio, as quebradeiras de coco babaçu, as rendeiras e doceiras reunidas em cooperativas, Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Maria da Penha, Doroty, as margaridas, as mulheres do MST e de outros movimentos populares, Oneide, Rosa, Ana Maria, Agostinha do CEBI, Tereza Cavalcanti, Inês, Catarina de Sena, Joana d’Arc, Anita Garibaldi, Ana Nere, e as milhares espalhadas por este mundo continuam como Raab, Séfora e Fuah, dentro do contexto de sua feminilidade a gerar vida e vida em abundância para todos e todas.”

Diante desse resgate histórico e de uma leitura da realidade contemporânea, percebo que estamos construindo a nossa estrada. Nós mulheres podemos hoje constatar, com alegria, a vida que foi e segue surgindo das nossas buscas, iniciativas, lutas... gestos pequenos que, como o grão de mostarda, citado por Jesus: “É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.” (Mt 13; 31-33).

Vamos em frente mergulhadas no desejo de participar, de criar, de transformar. Hoje, temos consciência do nosso papel, da nossa missão; é necessário apenas estarmos juntas, apoiando iniciativas de inclusão, alegrando-nos com o sucesso de tantas mulheres, sentindo-nos representadas por elas, ocupando todos os espaços que até então a própria sociedade não nos dava o direito de ocupar, e assim vamos tecendo a nossa própria história.


* Fotos: Ir. Dorothy Stang (Religiosa norte-americana, assassinada em 12/02/2005), Margarida Alves (líder do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoas, assassinada em 12/08/1983) e Marina Silva (Senadora e Líder Ambientalista)

4 comentários:

  1. Um bom texto, que vem ressaltar a importância da mulher em nossa história e na sociedade atual. Nos mostra que a caminhada é feita por mulheres e homens juntos, buscando um mundo melhor. Quanto a estrutura do texto, penso estar clara, possibilitando uma fácil compreensão do conteúdo.

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  2. Muito interessante o texto. O caminho histórico, bíblico e a transposição para a nossa realidade confirmam a ação e presença das mulheres no processo de libertação, ainda que tenham sido silenciadas pelas vozes dos dominadores.
    Faço apenas uma ressalva no que diz o texto que você faz referência do CEBI, falar de profetismo hoje requer uma análise um tanto quando apurada; dizer que a voz das profetizas estão sobressaindo talvez não seja um bom caminho para um diálogo do masculino e feminino.
    Parabéns pelo trabalho!

    Paulo Martins

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  3. O seu texto é muito interessante, distacaria mais a Irmã Dulce o trabalho de Amor e caridade que ela fez afavor do povo, cada dia as mulheres estão ocupando papel importantíssimo na sociedade.
    Parabéns gostei muito
    Adalgisa Gomes

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  4. O texto retira o véu da história de muitas mulheres que lutaram pela liberdade de seu povo, como as mais próximas de nos e de nossa realidade, quando Brasil, destaco Irmã Dulce, Maria da Penha, Irmã Doroty, as margaridas, as mulheres do MST etc. esse resgate histórico é incentivador para que muitas mulheres hoje se inspirem a lutarem pela vida em suas realidades.
    Renê Ramon

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