sexta-feira, 30 de outubro de 2009

GESTÃO EM AÇÃO... Acampamento Dandara: Dia das Crianças


"Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o Reino de Deus"
(Lc 18,18)


No dia 12 de outubro de 2009, aconteceu no Acampamento Dandara (bairro Céu Azul) a comemoração do Dia das Crianças.

Os alunos do Curso de Gestão Pastoral, juntamente com outras e outros companheiros de caminhada, organizaram e participaram do evento.

Foi uma tarde de alegria, descontração e esperança!!! Agradecemos a todas e todos aqueles que sonharam conosco, e ajudaram tornar possível esse momento.

Confira um pouco do que aconteceu, no vídeo abaixo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Jovem como espaço teológico



“Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem,
como nossa semelhança.
Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou,
homem e mulher ele os criou”
(Gn. 1, 26a.27).


Pensar o jovem e a jovem como espaços teológicos é pensar primeiramente num Deus que os criou à sua imagem e semelhança, homem e mulher, com um corpo, sexualidade, sentimentos, fantasias e desejos que lhe são próprios. Deus contemplou a sua criação e viu que tudo era muito bonito, tudo era bom. O salmista fez menção a esta realidade, falando do grande amor e cuidado de Deus para com a humanidade - Sl 8,5 : “Quem é o ser humano pra tanto cuidado merecer?”.

O Deus da Juventude é o Deus da festa, da música, da dança, da alegria de viver. O Deus do encontro, do contato com o outro, que se estende ao cuidado com a natureza. Um Deus ousado, que vence barreiras, que quebra preconceitos, que acolhe o diferente. O Deus da comunhão de corpos e ritmos, de diversos credos, numa sinfonia única chamada juventude.

Diante de tudo isso começam a surgir alguns questionamentos:
· Como evangelizar a juventude com espaços e ritos tão antigos?
· Que meios utilizar para tornar viva e atual a palavra de Deus?
· Como acolher a novidade da juventude se estamos presos a esquemas do passado?

O primeiro passo seria adotarmos uma postura de humildade diante dos jovens, assumir nossas fraquezas, reconhecer que não temos resposta para tudo, que não sabemos direito como evangelizá-los e que eles às vezes nos assustam.

Temos também que nos perguntar o que é evangelizar, porque muitas vezes achamos que somos os detentores de Deus e que devemos levá-lo aos que não O têm, ignorando a realidade das pessoas, sua cultura e experiência de Sagrado que cada um traz em si. O resultado na maioria das vezes é desastroso.

Ver o jovem como espaço do Divino é fazer um movimento contrário, não levar Deus aos jovens, mas buscar Deus presente neles. É deixar-se evangelizar pelos jovens, contaminar-se com sua alegria e vitalidade. Estar junto, caminhar lado, fazer poesia, viver grandes ideais e paixões. Sonhar com as coisas impossíveis e acreditar que é possível realizá-las. Ter desejos, sentir tesão pela vida. Ficar junto do jovem quando todos lhes derem as costas, saborear as alegrias e desilusões da vida e silenciar quando as palavras não puderem descrever o que se sente.

O Divino no jovem nos questiona, chama a atenção para ver a realidade de forma diferente; desinstala, faz ver a presença de Deus nas diferentes realidades e culturas juvenis, ver o Sagrado na cultura hip-hop, skatistas, funk, reggae, góticos, punks, emos... Se quisermos entender a juventude, somos chamados a ter um novo olhar sobre o fenômeno juvenil. E naqueles ambientes onde os jovens estão perdendo seu espaço, sendo esmagados pelo sistema excludente que os trata como mercadoria, rouba-lhes os sonhos, tiram-lhe o gosto pela vida e o brilho do olhar, é que nossa presença se faz necessária para ajudá-los a resgatar a dignidade perdida e descobrir o Deus que existe neles e que os criou para a vida plena.

Chamo atenção também para o outro lado da questão que é o da sacralização do jovem, onde de forma errada o jovem é visto como templo de Deus e deve ser afastado das “coisas do mundo” porque são pecaminosas. Em nome de “certa moralidade” acabam colocando um peso na vida do jovem. Infelizmente hoje dentro de nossa Igreja vemos surgir muitos grupos e movimentos com essa visão negativa do corpo e dos desejos que dele emanam. Os jovens acabam se sentindo culpados por causa de seus desejos e questões referentes ao sexo, coisas que são muito naturais na fase em que estão vivendo. Esse tipo de Igreja em vez de libertar acaba escravizando ainda mais os jovens, afastando-os de Deus. Aqueles jovens que são mais esclarecidos se afastam da Igreja, pois acreditam que podem muito bem viver sem ela.

Finalizo este texto fazendo um paralelo com a passagem bíblica da sarça ardente, que longe de ser uma interpretação teológica, simboliza minha idéia sobre o jovem como espaço do Divino:
”O anjo de Javé apareceu a Moisés numa chama de fogo no meio de uma sarça. Moisés prestou atenção: a sarça ardia no fogo, mas não se consumia”. (Ex.3,2).

Essa imagem representa bem a realidade do jovem, confuso, mas cheio de significado. É algo que queima sem se consumir, uma mistura de sentimentos e emoções. Num momento querem conquistar o mundo e em outro momento não estão nem aí pra nada. São movidos pela paixão e capazes de dar à vida por um ideal, e podem ser também altamente egoístas. Mas é nessa realidade que se encontra a presença de Deus, é o espaço de manifestação do Sagrado. Assim como Moisés, queremos chegar mais perto, entender melhor, e Deus nos convida a tirarmos as sandálias. Somos convidados a nos despojar de todos os preconceitos, tirar as sandálias do poder e da autoridade, pois o chão da juventude é um chão sagrado, que nos convida a fazer a experiência do Deus libertador que vê, ouve e vem ao nosso encontro.

sábado, 19 de setembro de 2009

Teologia Vocacional: Um processo de humanização em sintonia com Deus.



“Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu vos destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça.”
(Jo 15. 16)





No atual contexto da sociedade moderna vivemos uma lógica pragmática. Numa onda exacerbada de alteridade, muitos estão longe de um pressuposto cristão que é a igualdade. Para alguns, a vida não passa de um verdadeiro caos ativista. Neste contexto, nos deparamos com sucessivos chamados. Estes, quando suscitados por Deus nos interpelam a viver princípios básicos de humanização. Ou seja, cuidar dos seres vivos, estabelecer uma relação proativa com a natureza e com Deus.

Os chamados são expressão e manifestação de Deus que é trindade. E ele está envolvido diretamente no processo das nossas respostas. É ele que nos chama, nos conduz ao caminho e nos envia para a missão. Este modelo de compreensão sobre o chamado nos leva a pensar vocação como um apelo divino e trinitário. Segundo José Lisboa: “A vocação como comunicação trinitária é, antes, de tudo, uma ação do Pai. ‘Ele, por um livre desígnio de amor, toma a iniciativa. É o Pai que chama e envia’. Como primeira fonte de vida, o Pai é a fonte e o princípio de tudo, especialmente da vocação humana”.[1]

O discernimento é o caminho para viver no processo vocacional os sinais de Deus. Ele por sua vez nos leva a apaixonar-nos pela humanidade e por Deus. Por isso deve ser sempre pautado no cuidado, na ética e, sobretudo nos princípios cristãos. O/a vocacionado/a precisa partir do pressuposto da fé. O discernimento pautado na fé é uma proposta desafiadora para o/a jovem. Ele, por sua vez, deve saber que o chamado vocacional é também um caminho de entrega, doação e renúncias. Neste sentido entra a ação do promotor vocacional, o mediador, motivador, o ajudante para uma caminhada profunda de auto descoberta.

O jovem é desafiado quando chamado a fazer uma experiência itinerante vocacional. Como promotor e promotora, nossa principal função é viver com eles a dimensão do espírito de família, o que pode nos ajudar a fazer juntamente com o jovem uma experiência significativa, elaborando em toda a caminhada, projetos que os ajudem a serem homens e mulheres maduros/as, conscientes do seu processo de humanização e profundos na fé em Jesus Cristo. Por outro lado, logicamente podemos nos acomodar a ponto de adotá-los, apadrinhá-los, sermos na vida deles apenas membros de passagem. O que certamente não propicia liberdade e transparência no processo entre ambos, promotor e o/a jovem. Isso é um fenômeno preocupante. Quando agimos desta maneira, descuidamos nos princípios cristãos e participamos no processo de um seguidor do consumismo pautado na mentira, iludido em qualquer caminho que seguir na vida.

O acompanhamento vocacional é também um exercício de humildade. A Pastoral Vocacional deve ser um caminho de seguimento a Jesus. Tendo isso como base, debruçamo-nos em alguns questionamentos: Os pobres são nosso horizonte? Pensamos nisso quando estamos na orientação ou sendo orientados? Como lidamos com as diversas juventudes (tribos) numa perspectiva vocacional? O que de fato é nossa responsabilidade em um processo vocacional? E por fim, como protagonistas do nosso caminhar e da nossa ação, amamos? Acreditamos? Faz sentido este processo, esta missão que fazemos? Para compreendermos uma teologia encarnada neste modelo de sociedade e preocupada com a ótica da pobreza precisamos direcionar nosso projeto vocacional ao projeto de Jesus Cristo.



[1] LISBOA, José Moreira de Oliveira. Teologia da Vocação: Temas fundamentais: Loyola, São Paulo, 1999

domingo, 13 de setembro de 2009

Um pouco do que é o curso de Gestão Pastoral...

Confira o que significa o curso na ótica dos alunos...



Rezar em tempo de perseguição: mais que uma possibilidade, uma necessidade


(Uma leitura pastoral do livro do Apocalipse)


Ao longo de toda a história do povo de Deus vemos grandes orações, muitas surgidas em contextos de tribulação. São salmos de súplica, clamores, gritos de esperança do povo. O autor do Apocalipse ao narrar o sofrimento e a perseguição, nesta grande liturgia, deixa ao longo do caminho orações, hinos, cânticos, que dão o “tom” celebrativo ao livro e exprimem seu caráter litúrgico, o que colabora para que as comunidades que vão ler possam rezar compreendendo o mistério e a ação de Deus para com o povo sofrido.

A comunidade vive num contexto de perseguição, opressão e violência por parte do Império. Resistir parece impossível, rebelar-se um erro. O que fazer? Render-se ao sistema injusto que oprime e escraviza? O autor do livro acredita que uma atitude de “rebeldia” é possível. Testemunhar a Palavra e buscar a justiça se faz necessário, e a força para resistir se encontra na oração que ajuda a comunidade ter ânimo e perceber que a vitória está garantida na ressurreição de Jesus. O “Cordeiro de pé” fortalece e dá esperança à comunidade. O sofrimento e o martírio podem vir, mas aqueles que têm as “vestes alvejadas no sangue do Cordeiro” terão a vitória. É questão de paciência.

A realidade de hoje não é muito diferente da vivida pelo povo do Apocalipse. Um sistema injusto, idólatra e perverso tenta controlar as pessoas. Dotado de uma ideologia que não leva em consideração o bem comum, mas o prazer, o poder e a satisfação pessoal, ele mina as organizações que pensam diferente, e coloca de lado pessoas e grupos que não o seguem, não acreditam ou não podem fazer parte dele. A dominação econômica é um dos seus pilares e a mídia o seu grande “profeta”. Controlando as consciências e anestesiando o povo, o sistema se alastra por toda a sociedade de forma que pensar estar fora dele parece impossível e destruí-lo inacreditável.

O tempo presente, ainda em parte regido pela era da razão, cede espaço ao encontro com o transcendente. A busca por preencher o vazio existencial se faz por diversas formas de vivência do sagrado. Entretanto, muitos têm se voltado para uma religião mais individual ou manifestações místicas, onde a dimensão comunitária não existe, a responsabilidade e o compromisso é apenas entre o “eu” e Deus.

Diferente do que vem acontecendo, o Apocalipse propõe uma experiência comunitária encarnada na realidade. Uma realização na vivência litúrgica no agora, mas plenamente no que virá. É uma esperança de libertação que acontece na vitória de Jesus na cruz e que se consuma na “Nova Jerusalém”. O convite é a se distanciar da realidade, a fugir do domínio opressor ideológico que produz morte e a resistir na oração e no louvor a fim de que alcancemos a vida e a plenitude na vitória do Cordeiro. Ainda que aparentemente estejamos “perdidos”, a “subida”, à que a oração nos conduz, ajuda a contemplar a ação de Deus na história e a ter certeza da vitória que Cristo nos garante, pois a batalha contra o mal já foi vencida.

A vida cotidiana, portanto, deve ser alimento de nossas orações e liturgias, que na pessoa de Jesus ganha expressão e se transfigura. As celebrações devem nos ajudar a olhar diferente para o tempo presente contemplando a ação salvífica de Deus. A realidade nos impulsiona a rezar - os conflitos, perseguições e opressões criam em nós essa necessidade. A certeza, porém, da vitória de Jesus, lança luz sobre nós e nossa realidade e nos leva a louvar e cantar hinos, que na sua simplicidade, mas profundidade, revelam nossa alegria:

“É hoje o dia da alegria e a tristeza nem pode pensar em chegar.
Cristo ressuscitou, verdadeiramente Ele ressuscitou”.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Franciscanismo e Teologia da Libertação: Uma opção pelos pobres

A Teologia da Libertação busca ser no mundo de hoje uma provocação que nos ajuda a ver os pobres e oprimidos sob a perspectiva cristã. A partir do Cristo Ressuscitado, somos chamados a levar dignidade aos menores de nossa sociedade, promover a justiça e a paz, em toda a sua plenitude. O pensamento libertador nos permite perceber que o pobre é receptor, mas também condutor do Evangelho. O oprimido, a partir de seu sofrimento, nos evangeliza e convida à conversão diária ao serviço, à solidariedade e busca da vida.

O documento de Puebla afirma que a opção preferencial pelos pobres, é colocá-los, com suas angústias e esperanças, no centro de nossa evangelização e do pensamento da Igreja. A Teologia da Libertação assumiu essa posição, e além dela, percebemos claramente esse ideal no carisma franciscano.

São Francisco de Assis dedicou sua vida ao serviço aos excluídos, aos leprosos e pediu a seus frades que continuassem com o seu sonho de fraternidade universal. Infelizmente no decurso histórico, esse contato próximo foi substituído pelo intermédio da instituição, começamos a agir como a Igreja que por nós foi tão criticada no passado. Com o objetivo de atualizar a opção pelos menores, acabamos ficando com o caduco e alterando a essência de nosso carisma, o pobre.

Quem são os pobres pelos quais fazemos preferência? Essa foi a pergunta que nos permitiu acomodação. Começamos a ampliar a concepção, como por exemplo, os pobres de espírito. Todos somos pobres de espírito e estamos num constante crescimento, a questão, é que com essa “atualização”, o principal nos escapou, aquele a quem se nega a dignidade, que não tem comida, que suplica um pouco de pão e que acaba morrendo antes do tempo. Pobre é aquele a quem é roubado o direito de viver.

Puebla nos convida: É importante sobretudo que revisemos, em comunidade, nossa comunhão e participação com os pobres, os humildes, os pequenos... para tornar mais efetiva a unidade com eles num mesmo corpo e num mesmo espírito. Isso pede de nós um despojamento, segundo o Evangelho, de nossos privilégios, modos de pensar, ideologias, relacionamentos preferenciais e bens materiais (n. 974; 975). Aqui vemos um forte chamado ao retorno às nossas origens, aos fundamentos dos frades menores. Devemos voltar nossos olhos àqueles que sofrem e esperam um abraço acolhedor, um sorriso que os dê força para continuar a lutar pelos seus direitos. Temos o dever de estar no meio dessa gente, de assumir e viver com elas as suas angústias, suas dores. Não esqueçamos meus irmãos que enquanto nossa mesa é farta, nossas casas aconchegantes, outros tantos mendigam a sobrevivência.

Leonardo Boff afirma: Libertar os pobres, ajudar no lugar em que estivermos, é uma tarefa messiânica, para a qual é chamado todo crente. Nesse esforço, a Igreja pode suportar ser difamada pelos ricos. O que não pode permitir é ser menosprezada pelos pobres.

Essa teologia libertadora é um convite a todos os cristãos a viverem com lealdade o seu batismo e essa opção preferencial pelos pobres, a buscarem a força que brota da comunidade e é convertida em atitudes, a assumirem o Evangelho como linha mestra de suas vidas.