quarta-feira, 3 de junho de 2009

Gestão Pastoral: um exercício de profetismo!

As discussões iniciadas por ocasião da reunião dos provinciais sobre a continuidade ou parceria do ISTA com a PUC me levaram a pensar sobre a identidade do Instituto, mais ainda, sobre a natureza do curso de Gestão Pastoral, que é visto com tão pouca importância dentro do contexto da faculdade. Se o ISTA se apresenta como um Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos dos Religiosos, me coloco na perspectiva de quem se sente deslocado nessa discussão, uma vez que como religiosos e religiosas prezamos por nossa identidade de profetas e profetizas que passa a entrar em cheque diante dessa realidade.

Na carta produzida pelos alunos, diga-se de passagem que foi iniciativa dos alunos do curso de Gestão, o que mais me chamou a atenção é a ênfase dada ao fato de o Instituto ser específico para a Vida Religiosa formando profetas e profetizas. A partir daí me vieram questionamentos que acredito serem pertinentes e que nos ajudam a nortear a reflexão: que profetismo tem exercido o Instituto na Igreja local de Belo Horizonte? Qual é a atuação dos acadêmicos nas discussões dos grandes temas da vida da Igreja? O que de fato compreendemos como profetismo? O que temos feito para resguardar nossa identidade enquanto Instituto? Por onde tem passado a paixão e o desejo de transformar a realidade? O que temos feito para que, mais que um centro acadêmico, o ISTA seja reconhecido pelo seu ideal de formação integral de agentes transformadores da realidade?

Creio que a profundidade desta discussão mereça alguns esclarecimentos conceituais. Segundo Augusto Matos, teólogo que escreve no sítio da congregação dos Salvatorianos, “o movimento profético brota da experiência de Deus feita pelo profeta e das dificuldades vividas no meio do povo. Eles é que vão denunciar a corrupção e anunciar um Deus que se faz presente no meio do povo”. Daí me vêm outras perguntas: que reflexos de nossas discussões acadêmicas têm surgido a partir do grito do povo? A experiência acadêmica tem dado conta de traduzir em conceitos a experiência de Deus para transformá-la numa práxis engajada?

Nelson Gervori, pastor protestante e coordenador de Assuntos Ecumênicos do Movimento Evangélico Progressista de São Paulo, afirma que “a postura profética histórica nos propõe uma interessante e oportuna reflexão sobre o nosso papel como profetas da atualidade, quer sejamos pastores, padres, teólogos, igreja ou entidades paraeclesiais. Aponta para uma revisão da relação entre profecia e sociedade e poder na pós-modernidade”. A teóloga Tereza Cavalcanti assinala que “o profetismo é também o anúncio da esperança, da utopia que buscamos e que não nos deixa desanimar, porque temos a promessa o futuro, assim como já conduziu os passos dos profetas e pais que nos precederam na fé”.

Ancorado nessas falas, afirmo que estamos um pouco distantes dessa realidade profética de que tanto nos gabamos. Acredito, porém, na possibilidade de tornar real aquilo em que pensamos ser o fundamento da vida religiosa. O compromisso com a transformação deve ser algo que pulse nas nossas veias e o conhecimento acadêmico vem apenas nos fornecer elementos para que possamos, com maturidade e menos amadorismo, construir a sociedade em que acreditamos, a “Civilização do Amor”. Não sendo indiferentes ao mundo que está à nossa volta e que pede de nós atitudes concretas e com qualidade, podemos ser arautos da esperança, promotores da paz, agentes da justiça.

Vislumbro no curso de Gestão Pastoral o caminho para o Profetismo do Instituto. Este que é pensado para ser um curso mais “tecnólogo” sistematiza de forma genial a teoria e a prática possibilitando aos alunos uma nova práxis. Não deixando de lado os outros cursos do ISTA, o Gestão oferece um campo maior de atuação: além da visão mais próxima da realidade, possibilita aos alunos um contato maior com o povo e uma experiência diferenciada de Deus. Este curso, se bem articulado e conduzido, pode se tornar o meio que ajude o Instituto ser aquilo a que foi chamado a ser, desde a sua fundação. Nas palavras do atual diretor executivo do Instituto, padre Manoel Godoy, “um Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos dos Religiosos, que garanta a formação intelectual e pastoral, em nível superior, dos estudantes de congregações religiosas e leigos, tornando-os capazes de atuarem na sociedade, alicerçados numa autêntica justiça e ética cristãs”.

3 comentários:

  1. Gostei muito do texto, principalmente porque fala de nossa realidade quanto instituto. Para mim ficou um artigo claro e leve. Apenas uma frase no último parágrafo, "... pode se tornar o meio que ajude o Instituto ser aquilo a que foi chamado a ser...", que para mim é compreensível, mas provoca a sensação que falta alguma coisa.
    Acredito no muito no que foi dito, e ressalto a importância de que cada um assuma sua postura profética e não fique esperando que os outros assumam por você.

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  2. Caro Irmão Paulo Martins. Parabéns pelo seu texto, também acredito nesta dimensão profética que você aborda com certeza o curso de Gestão Pastoral é uma oportunidade motivadora que nos leva a refletir, aprofundar e explorar nosso ideal de vida religiosa. Esta dimensão de “exercício de pastoral” é significativa para compreendermos que nossa missão cristã é opcional pelos pobres sobre tudo os marginalizados. Tenho esperança meu Irmão de que este Curso vai continuar e certamente nos fornecerá uma base consistente para nosso seguimento de Jesus Cristo.

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  3. "Vislumbro no curso de Gestão Pastoral o caminho para o Profetismo do Instituto"... partilhamos deo mesmo sonho!!!
    Meu querido, seu texto é claro e objetivo, bastante questionador porém, suscita esperança.
    Façamos destas palavras, busca e vida!!!
    Nós, hoje, somos construtores desse ideal!

    Roberta

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