quarta-feira, 3 de junho de 2009

A teologia libertador-ecológica em Leonardo Boff

“A sabedoria maya [...][Popol-Vuh e nos Livros de
Chilam Balam][ensina que] o universo é construído e
mantido por energias cósmicas pelo Criador e
Formador de tudo. O que existe na natureza nasceu do
encontro de amor entre o Coração do Céu com o
Coração da Terra.[...] Os seres humanos são vistos
como ‘os filhos e filhas esclarecidos, os averiguadores
e buscadores da existência’.[...][O ser humano]
‘conhece o que está perto e o que está longe’. Mas sua
característica é ter coração. Por isso ‘sente
perfeitamente, percebe o Universo, a Fonte da vida’ e
pulsa ao ritmo do Coração do Céu e do Coração da
Terra.”

Leonardo Boff

Antes de iniciar a reflexão sobre a teologia libertador-ecológica, é importante recordar que Leonardo Boff é um grande nome que esteve envolvido no surgimento da Teologia da Libertação, nas reflexões sobre a marginalização e a opção da Igreja pelos pobres. Diante dessa opção e o caminho trilhado, se enveredou na questão ecológica: fazemos parte de um todo criado, e quando Gaia não está bem, também nós não estamos.


Vivemos um tempo em que a natureza perdeu seu valor real, e assumiu um valor comercial. Florestas são dizimadas sem se pensar nas consequências, rios são poluídos, o ar nas grandes metrópoles é irrespirável, os seres são “coisificados” e, nessa dinâmica, o próprio ser humano é reduzido. Já caminhando contrário a essa situação, Boff afirma no seu artigo A força curativa da ecologia interior: A partir da ecologia interior, a Terra, o sol, a lua, as árvores, as montanhas e os animais não estão apenas aí fora, mas vivem em nós como figuras e símbolos carregados de emoção. É um convite para iniciarmos o diálogo com a natureza.


Em outro artigo, Eco-simplicidade, ele afirma: O que se opõe à nossa cultura de excessos e complicações é a vivência da simplicidade, a mais humana de todas as virtudes, presente em todas as demais. Hoje, nos perdemos diante de tantas ofertas, tantas necessidades criadas como essenciais à sobrevivência. Não se pensa que, quanto mais se consome, mais destruído é o planeta, e que na maioria das vezes, de forma irrecuperável. Nossa mãe Terra é suficiente para todos nós, a partir do momento em que aprendemos a conviver nela e com ela. Bem dizia Gandhi: Temos que aprender a viver mais simplesmente para que os outros simplesmente possam viver.


Falamos em nos fazer pequenos com os pequenos, menores com os menores e nos esquecemos de nos fazer terra com a Terra. Quando atingimos tal estado de espiritualidade, nos percebemos parte integrante da criação, irmãos de todas as criaturas, experiência essa vivida por Francisco de Assis. Boff é muito claro em sua teologia. No mesmo artigo citado anteriormente, Eco-simplicidade, ele afirma: A nova cosmologia nos afirma que a Terra é o grande sujeito vivo que através de nós sente, ama, pensa, cuida e venera. Consequentemente importa pensarmos como Terra, sentirmos como Terra, amarmos como Terra, pois, na verdade, somos Terra, espécie homo, feito de húmus, de terra boa e fértil.


Ele nos fala também de quatro grandes vertentes da ecologia. A primeira, uma ecologia ambiental, que nos fala do próprio meio ambiente, uma busca por melhor qualidade de vida e de preservação das espécies; sem isso, podemos um dia inviabilizar a permanência do homem na Terra. A segunda é uma ecologia social, que propõe um desenvolvimento sustentável, que irá suprir as necessidades básicas da população, sem o desgaste da natureza. O bem estar não pode ser apenas da sociedade, mas também do cosmo, dos animais, plantas, rios. A terceira, ecologia mental, declara que a atual situação não é consequência apenas de atos, mas de uma mentalidade presente na sociedade. O homem se coloca acima da natureza e não em posição de irmão de toda criatura. A quarta ecologia é a integral, que busca colocar o homem numa posição de visão global e holística, fazendo-o compreender-se como parte dessa totalidade.


Diante desse modo de ver a Teologia, Leonardo, no seu artigo Desafios Ecológicos do Fim do Milênio, afirma: O cristianismo é levado a aprofundar a dimensão cósmica da encarnação, da inabitação do espírito da natureza e do panenteísmo, segundo o qual Deus está em tudo e tudo está em Deus. Precisamos, então, nos reconciliar com nosso planeta, trabalhar por uma relação fraterna, sentirmos que nosso coração bate uníssono com o coração da natureza, que fazemos parte dessa grande energia cósmica e assim, estar em sintonia com o Criador.

Um comentário:

  1. Meu amigo, excelente trabalho!!!
    Texto bem fundamentado, com tema amplo porém, com enfoque preciso.
    Vale resaltar sua explicita implicação no mesmo.
    Parabéns!!!

    Roberta

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