terça-feira, 9 de junho de 2009

O teatro como espaço de formação

As luzes se acendem, as cortinas se abrem, começa mais um espetáculo. A partir desse momento o ator dá lugar ao personagem, empresta seu corpo e sua voz para transmitir uma mensagem... Inicia-se assim mais uma apresentação de teatro dando continuidade a uma belíssima história que começou há mais de dois mil anos na Grécia Antiga no séc. VI a.C... O teatro grego como imitação da realidade colocava em cena o ser humano e sua relação com os deuses, relação essa muitas vezes conflituosa. Assim o teatro vai se desenvolvendo como espaço de relação social, fazendo rir, chorar e levando a refletir.

Fernando Peixoto, no seu livro intitulado O que é o teatro, nos mostra que o mesmo chega ao Brasil junto com os colonizadores. É trazido pelos jesuítas como meio de anunciar o evangelho à nova nação, tinha um caráter pedagógico e catequético e estava relacionado diretamente com a Bíblia.

Somente no séc. XIX se desenvolve uma identidade nacional do teatro. A partir de 1939 nasce o Teatro Acadêmico, absorvido, no ano seguinte, pelo teatro universitário e contando com o apoio logístico da recém-fundada União Nacional dos Estudantes, UNE. Esse movimento artístico atraiu muitos jovens entusiastas e melhor preparados intelectualmente, neles motivando o gosto pela arte e ajudando a despertar vocações, alguns chegando ao teatro profissional. Podemos assim perceber como o teatro veio se desenvolvendo e acompanhando o curso da história até chegar a nós hoje.

O teatro no meio acadêmico vem configurar melhor o espaço, quer ser lugar de crescimento humano e intelectual, propiciando a construção de valores e análise da realidade, lugar do jogo, do desenvolvimento do ator social, onde o estudante aprende a trabalhar suas habilidades artísticas e a conhecer-se melhor.

No grupo de teatro são desenvolvidas dinâmicas que ajudam no conhecimento pessoal através da percepção de sentimentos e do contato com o próprio corpo. Isso ajuda a perceber o outro e a respeitar seu espaço. Quero destacar principalmente nesse processo a construção da relação de grupo, do espírito de partilha, e trabalho em equipe. Tudo é feito em equipe e o sucesso do mesmo depende de cada um. O grupo de teatro é o espaço onde cada um pode se sentir à vontade para expressar seus sentimentos e soltar as tensões do dia-a-dia. Através da criação de personagens podemos expressar nossas opiniões e sermos quem realmente somos.

O Grupo de Teatro do ISTA, sendo um espaço onde a grande maioria são religiosos e religiosas, quer propiciar para seus membros através de jogos, exercícios de corpo/movimento e dinâmicas um melhor desenvolvimento psicossocial que reflita também em sua atuação pastoral junto aos grupos e movimentos. Acredito ser este espaço indispensável na formação dos estudantes para desenvolver suas potencialidades e principalmente ajudar no crescimento pessoal de cada estudante. O tempo que passamos na faculdade é um tempo de amadurecimento e construção de conhecimento e o teatro como meio de educação vem apenas somar neste período de aprendizagem que serve para toda vida.

Restaurar para melhor evangelizar


De acordo com o Teólogo Afonso Murad, no mundo globalizado e capitalista em que estamos vivendo, a tendência da humanidade é tornar-se cada vez mais consumista e individualista. Neste sistema ideológico, a pessoa não é valorizada pelo que ela é, mas pelo quanto pode consumir. O ser humano não é visto como sujeito de si mesmo, mas como consumidor e objeto de consumo.

Para a Teologia da Libertação, a formação de uma consciência que liberta as pessoas das estruturas escravizadoras da ideologia capitalista constitui um desejo muito grande, pois muitos pobres não têm consciência de que, a cada dia que passa, estão sendo sugados pelo egoísmo e pela exploração do mercado.

Nesta perspectiva, penso que o objetivo da Teologia da libertação é conscientizar as pessoas que se encontram no estado de pobreza e chamar a atenção para os valores humanos, bem como para a não conformidade com a miséria imposta por uma parcela da sociedade que não deseja a partilha.

A finalidade desta corrente teológica é libertar a humanidade da opressão e da marginalização, colocando Jesus Cristo como base principal para dar continuidade na luta por um futuro melhor, onde todos tenham vida e vida em abundância (Jo 10,10).

Tendo em vista o processo contínuo de mudanças vividas pela sociedade hodierna, tenho observado que as variadas facetas do capitalismo e as muitas formas de pobreza devem apontar para a necessidade de uma nova articulação e reformulação da Teologia da Libertação. Essa reformulação será de suma importância para que suas perspectivas sejam atualizadas.

Um novo olhar da Teologia da Libertação sobre a sociedade em mudança poderá fazer com que esta mesma sociedade sinta-se afetada por esta maneira mais humana de ver o mundo. Como consequência disso, poderão surgir novas lideranças que sejam imbuídas pelo Espírito Santo para dar continuidade à proposta do Evangelho que é fazer com que haja igualdade entre todos. Vale a pena ressaltar que esta proposta não é exclusividade da Teologia da Libertação, mas em primeiro lugar de Jesus Cristo.

De acordo com Clodovis Boff, o documento de Aparecida enfatiza e chama a atenção para o discipulado, e missão dos batizados. Nesse mesmo documento, é possível encontrar alguns sinais para as possíveis reformas que poderão ser difundidas pela Teologia da Libertação para melhor seguir as pegadas de Jesus Cristo no anúncio profético em favor dos empobrecidos.

Neste sentido, é preciso ter sempre diante de nossos olhos que amar é fazer os outros se sentirem amados, o amor é cristão, e ser cristão é não perder de vista as lutas e os objetivos. Por isso, o cristianismo precisa escancarar as portas da justiça e afetar diretamente as estruturas de opressão que impedem os marginalizados de enxergar o seu valor como seres humanos e de sua importância na construção de um mundo melhor.

Quem confia em Cristo possui expectativa para continuar em busca da libertação e essa deve ser a meta principal da Igreja enquanto seguidora fiel de Jesus Cristo que nos ama.

Guiné-Bissau, um lugar onde se ouve a voz de Deus

Guiné-Bissau fica situada na costa ocidental da África, no norte faz fronteira com o Senegal, a este e sudeste com a Guiné-Conacry, e a sul e oeste com o oceano Atlântico. O país é constituído por uma parte continental e 88 ilhas e ilhéus dos arquipélagos dos Bijagós, separado do continente pelos canais do rio Geba, Bolama, e Canhabaque. A população é de 1.472.446 habitantes, e superfície é de 36.125km2; sendo 1.500km2 os arquipélagos dos Bijagós.

Os franciscanos foram os primeiros missionários que chegaram na Guiné-Bissau no norte, na região de Cacheu, onde construíram a primeira igreja chamada Nossa Senhora de Natividade.

No momento da independência, em 1973, havia apenas um Seminário Menor Diocesano. Agora as congregações tanto masculinas como femininas estão fazendo trabalhos vocacionais. Atualmente existem dois Seminários menores (Diocesano e Franciscano) e um Seminário Maior em Bissau. Os seminaristas de Filosofia e Teologia, tanto diocesanos como franciscanos, que antes eram obrigados a ir respectivamente para o Senegal, Costa do Marfim e Togo, têm agora a possibilidade de uma formação filosófico-teológica dentro do país nativo.

Em 13 de outubro de 2001, foi finalmente possível inaugurar oficialmente o Seminário Maior de Bissau, um sonho do Bispo D. Settimio Ferrazzetta, que infelizmente não conseguiu ver realizado durante a sua vida, mas para cuja concretização tanto trabalhou. O Seminário abriu apenas com o 1º Ano do Curso propedêutico, tendo por Reitor o Padre Domingos Cá. Esse primeiro Curso foi freqüentado por 14 seminaristas, sendo 9 diocesanos, dois josefinos, dois do Preciosismo Sangue e um franciscano.

Em 1977 não havia nenhum sacerdote nativo da Guiné-Bissau, hoje há um bispo e 33 padres nativos, bem como dois religiosos não-clérigos. O mesmo se diga em relação às religiosas nativas, que atualmente são 32 e 2 leigas consagradas.

Para as congregações femininas, houve grande crescimento após a abertura da Casa de Formação Diocesana em Bissau em 1981. Atualmente existem sete casas de formação e duas casas de acolhidas, que são: Casa de Formação Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida, Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, Clarissas Franciscanas Missionárias do SS. Sacramento, Irmãs Franciscanas de Cristo Rei, Irmãs de Santa Mariana de Jesus - Marianitas, Adoradoras do Sangue de Cristo, e as casas de acolhidas das jovens candidatas de vida religiosa são das Filhas de Maria Religiosa das Escolas Pias e Missionárias da Imaculada. Atualmente existem 6 congregações masculinas e 18 femininas .

Contudo, é gratificante ver e reconhecer em Guiné-Bissau a sua caminhada vocacional e o seu progresso histórico. Desde a chegada dos primeiros missionários até os dias atuais, percebe-se que os guineenses souberam acolher o chamado que Deus lhes faz, para também eles serem agentes atuantes em sua terra, anunciando o Reino de Deus a tantas pessoas que anseiam por dignidade, justiça e paz.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O protagonismo da mulher e sua ação libertadora ontem e hoje


O grão pequeno, mesmo sem ser visto, germina, cresce, fecunda e gera vida... Partindo dessa certeza, desejo fazer um resgate histórico do papel da mulher na sociedade e em seus diferentes setores; a partir desse panorama temporal podemos perceber que muitos são os trabalhos significativos deixados por ela ao longo dos tempos. Durante séculos se atribuiu o conceito de trabalho feminino apenas àquele que se fazia no lar: afazeres domésticos, educação dos filhos. Contudo, hoje sabemos que tal conceito é irreal, pois tanto no passado como no presente as mulheres têm trabalhado durante toda a sua vida em vários âmbitos, inclusive eclesial, deixando assim sua marca sutil, que pouco a pouco vai tornando-se visível.

O papel da mulher na Igreja é um tema muito importante e talvez pouco discutido. Atualmente, na vida de nossas comunidades, há situações extremas que deveriam levar-nos à reflexão: em alguns lugares a mulher não pode subir ao altar ou até mesmo falar durante o encontro; em outros, ao contrário, é a líder da comunidade, que depende de sua perseverança para subsistir. É ela quem ensina a palavra de Deus; é ministra da eucaristia, catequista, pastora e assim por diante. Essa é a situação atual. Penso que no tempo da Bíblia não era diferente: existiam situações distintas e, às vezes, contraditórias.

O protagonismo feminino já aparece no Antigo Testamento: pensemos personagens como Miriam, Débora e Hulda. Além delas, no Novo Testamento, temos as “Marias” que acompanhavam Jesus, Priscila em Atos, Febe, que em Romanos é considerada uma diaconisa. É evidente que Paulo, quando escreve aos coríntios (1Coríntios 11,3), apresenta como natural o papel da mulher na assembléia, onde ora e profetiza. Hoje, as profetisas estão saindo do anonimato e rompendo a cadeia da exclusão.

Não podem ficar de fora dessa reflexão as milhares de mulheres que fazem história em nosso continente, em nossa Igreja e no mundo afora. Cada uma a seu modo, com sua cultura e expressão, vai rompendo “as algemas” e mostrando a cara e a voz, fazendo assim como a semente pequena e discreta que traz, dentro de si, vida... Estamos falando de mulheres que não aceitam a ditadura da beleza imposta pela mídia e quebram as correntes da violência doméstica, libertas e provocadoras de mudanças, protagonistas nas coisas simples da comunidade, mas também capazes de construir redes de solidariedade, partilha e ajuda mútua, “mulheres que assumem a defesa de seu povo com coragem e firmeza” (Jz 5, 28-30) e não ficam passivas a esperar.

Parece-nos normal ouvir dizer que os profetas estão mudos, ninguém anuncia ou denuncia mais. Retomo uma pequena parte do texto Mulheres e Profetismo – CEBI (Centro de Animação Bíblica) que poderá ajudar-nos nessa reflexão, ressaltando o protagonismo e profetismo de tantas mulheres de ontem e de hoje: “Será que os profetas sumiram ou será que é a vez e a voz das profetisas que estão sobressaindo? As mães da praça de maio, as quebradeiras de coco babaçu, as rendeiras e doceiras reunidas em cooperativas, Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Maria da Penha, Doroty, as margaridas, as mulheres do MST e de outros movimentos populares, Oneide, Rosa, Ana Maria, Agostinha do CEBI, Tereza Cavalcanti, Inês, Catarina de Sena, Joana d’Arc, Anita Garibaldi, Ana Nere, e as milhares espalhadas por este mundo continuam como Raab, Séfora e Fuah, dentro do contexto de sua feminilidade a gerar vida e vida em abundância para todos e todas.”

Diante desse resgate histórico e de uma leitura da realidade contemporânea, percebo que estamos construindo a nossa estrada. Nós mulheres podemos hoje constatar, com alegria, a vida que foi e segue surgindo das nossas buscas, iniciativas, lutas... gestos pequenos que, como o grão de mostarda, citado por Jesus: “É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.” (Mt 13; 31-33).

Vamos em frente mergulhadas no desejo de participar, de criar, de transformar. Hoje, temos consciência do nosso papel, da nossa missão; é necessário apenas estarmos juntas, apoiando iniciativas de inclusão, alegrando-nos com o sucesso de tantas mulheres, sentindo-nos representadas por elas, ocupando todos os espaços que até então a própria sociedade não nos dava o direito de ocupar, e assim vamos tecendo a nossa própria história.


* Fotos: Ir. Dorothy Stang (Religiosa norte-americana, assassinada em 12/02/2005), Margarida Alves (líder do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoas, assassinada em 12/08/1983) e Marina Silva (Senadora e Líder Ambientalista)

O profeta na sociedade

Como ponto de partida, pretendo apresentar a definição de profeta, sua missão e como é chamado a atuar na sociedade.

O dicionário Aurélio diz: “Profeta é uma pessoa capaz de prever o futuro”. Será essa a visão que a bíblia nos apresenta? Certamente não é só isso. A visão do Antigo Testamento apresenta pelo menos três termos em hebraico que traduzem a palavra profeta. São eles:

NABHI: Tem o sentido de “declarar, anunciar, falar por, representar”. O profeta era “porta-voz especial de Deus”.
RÕEH: Tem o sentido de “vidente, aquele que vê”. O profeta podia penetrar no futuro e revelá-lo.
HÔZEH: Tem o mesmo sentido de “alguém que vê”.

No Novo Testamento o profeta é aquele que fala aos homens para edificar, exortar, consolar (1Cor 14.3,29-32; Ef 4.11-13). Também no Novo Testamento Jesus é a personificação maior de todos os profetas, o que não exclui sua divindade. Com isso quero dizer que é nele que a revelação se completa e por ele que Deus se revela ao mundo.
Enfim, pode-se dizer que profeta é aquele que fala em nome de Deus. Para falar em nome de Deus o profeta alimenta em seu interior a relação íntima com este mesmo Deus que ele anuncia aos homens.

O profeta é aquele que discerne à luz do Espírito, deixando-se purificar por este mesmo Espírito que o move em direção ao outro. E hoje, o que vem a ser profeta em nossa sociedade? Profeta é aquele que experimenta a presença de Deus no meio do povo e a ela se rende (Is 52,6; 58, 9; 65,1). Está junto as necessidade e atento às realidades presentes.

O profeta é aquele que conduz o povo na sociedade já cansada da opressão e que clama como o povo clamou no deserto: “Que havemos de beber?” (Ex 15,24). O profeta denuncia as injustiças; ele ajuda as pessoas a enxergarem o sistema que marginaliza e oprime suas vidas. Através do profeta a comunidade visualiza o pobre, enxerga-o não como uma simples pessoa que necessita apenas de bens materiais, mas do respeito, da solidariedade e da dignidade humana. É aqui que aparece a importância da ação do profeta. Ele não só denuncia os erros, nem só estimula o povo para a solidariedade, mas também anuncia a certeza central da fé: Deus está em nosso meio! Ele ouve nosso grito! Desse modo o profeta contribui para que apareça no povo uma consciência de que não precisa unicamente de um sistema, mas da força que traz em seu interior e que precisa ser despertada.

Portanto é preciso ir em frente, avançar. A sociedade faz parte de nossa vida e como tal é preciso que cada um de nós assuma o papel de profetas de um novo, despertando nas pessoas a presença de Deus que está constituindo-as povo escolhido por Ele.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Empresa ou paróquia: pessoas valorizadas; trabalhos mais produtivos, pastorais mais objetivas


Coordenar um grupo onde o trabalho em equipe seja constante requer algumas habilidades e sensibilidades. Encantar-se com tal trabalho faz diferença em um espaço pastoral e (ou) profissional. Usamos o termo gestão para destacar todos os processos que envolvem administrador e administrado. O que diferencia tal prática em uma instituição confessional de uma laica é a missão religiosa.

Segundo Sheila Madrid Saad, professora da Universidade Mackenzie, as questões que permeiam a gestão de pessoas fascinam e são extremamente importantes. Incontestável a colocação da professora, visto que o “lucro” contabilizado por empresas que investem na harmonização do ambiente de trabalho é notório. Ela ainda afirma que os recursos humanos são a própria organização e que o interessante é perceber como a forma de administrar as pessoas faz a diferença. Não se pode administrar uma instituição sem ter os funcionários como “corpo” da empresa. E quem lidera o grupo, dependendo da forma, reflete sua gestão no desempenho da instituição. O mesmo serve para o ambiente pastoral. Com um diferencial supracitado, no caso objetivando o aspecto Religioso Catequético e de promoção do outro (público alvo) à dignidade.

Não podemos exigir, dentro de um ambiente de trabalho pastoral ou empresarial, que todos tenham as mesmas atitudes, opiniões e formas de trabalho. Por exemplo: uma equipe de catequistas, onde estão pessoas de conhecimentos distintos. Há realidades diferentes em um mesmo grupo. Victor Martinez, especialista em treinamentos comportamentais e gestão de pessoas, fala que é importante conhecer o perfil comportamental de toda a equipe gerida, assim o gestor pode ter uma visão macro de seus colaboradores, que vai além das competências profissionais de cada um deles. Nesse aspecto, toma-se fôlego para nutrir grupos com habilidades diversas, onde um ajuda o outro.

Volto a citar a professora Sheila Madrid Saad por ser pertinente o assunto apresentado por ela: “Muitas empresas familiares, diante de sua falta de profissionalização, assumem sua ação em gestão de pessoas de forma amadora. Não se pode considerar ações que privilegiem aqueles que não têm competência para assumir ou se manter em cargos, pelo simples fato de estar respaldado pelo direito sucessório”. Estendo à palavra família o termo AMIZADE e pergunto: Onde enquadramos a afirmação de Sheila em nossas paróquias e instituições religiosas? A resposta é muito fácil. Toda vez que centralizamos e nos deixamos levar pelo egoísmo dinástico. Se um padre justifica que uma pessoa assuma determinada pastoral apenas pelo fato de ser parente ou amigo do predecessor, esse sacerdote deve ser o primeiro a procurar ajuda tanto religiosa quanto acadêmica no campo da gestão. Outros casos muito comuns são as famílias donas de chaves de igreja; um local que é tanto de oração quando de encontro das pessoas não pode ser restrito a grupos caracterizados pelo sobrenome. Ou ainda contratar um professor porque é filho de alguém que lecionou no colégio por trinta anos. O diretor responsável que contrata um colaborador dessa forma, sem uma prévia avaliação pedagógica, age equivocadamente.

A “voz de mando” em uma empresa ou paróquia não deve estar relacionada ao autoritarismo e sim à confiança a partir de um ambiente de trabalho sadio e harmonioso onde os recursos humanos sejam valorizados. Victor Martinez lembra que “As ferramentas atuais para ajudar os gestores estão cada vez mais modernas e com custos reduzidos, assim todos podem otimizar suas gestões.” Termos colaboradores como prioridade da instituição ou paróquia traz resultados que são desproporcionais e insignificantes ao investimento financeiro. E, além disso, homens e mulheres mais satisfeitos com o emprego e com a vida.

LEITURA PASTORAL DA BÍBLIA

Há diferentes maneiras de ler a Bíblia. Para muitos, ela é pouco explorada; para outros, ela tem apenas algumas brechas por onde entrar.

Grande parte das pessoas não encontra ainda a riqueza que a Bíblia contém. No entanto, a Bíblia tem muitas formas de leituras e interpretações, e todos, segundo as suas capacidades, podem fazê-la.

Existem vários métodos de leitura da Bíblia. De acordo com Herculano Alves, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, há o Método histórico-crítico e o semiótico, também chamado estruturalista, que são os dois mais praticados atualmente. Segundo ele, existem também métodos pastorais de leitura bíblica. Estes tratam de modos, de perspectivas de leitura popular da Bíblia. Os métodos científicos, anteriormente referidos por Herculano, são de investigação bíblica, em sentido estrito, mas os pastorais, longe de prescindir deles, pretendem levar à prática as aquisições destes e conduzir eficazmente a leitura da Bíblia ao povo.

O Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) orienta que, para uma leitura pastoral bíblica, tem de se seguir uma linha de interpretação que ligue a Vida e a Bíblia e a Bíblia e a Vida. Muitas comunidades fazem esse trabalho utilizando subsídios fornecidos pelas equipes de Dimensão Bíblico-caquética das arquidioceses. Além dos subsídios, cursos para Animadores de Grupos de círculos bíblicos que forneçam aos líderes comunitários estudo bíblico e conhecimentos básicos, alguns pontos de apoio e pistas para encontrar o verdadeiro sentido dos textos lidos em particular ou em grupo.

Uma comunidade nasce e se fortalece em torno da leitura e interpretação da Bíblia, em suas pastorais, celebrações, trabalho e estudo de grupo, leitura pessoal e comunitária, teatro, orações, recreios. Partindo de suas experiências pessoais e comunitárias em um ambiente de fé e de fraternidade onde a palavra humana circula com liberdade e sem censura, a palavra de Deus gera liberdade.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Curso de Gestão Pastoral e convivência fraterna da turma

A turma do primeiro período do curso Gestão Pastoral no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) vive uma experiência muito significativa neste primeiro semestre de 2009. Tornamo-nos nesta nova etapa da vida uma turma animada, consciente, participativa, aberta, solidária, verdadeira, transparente e sobretudo consciente do nosso objetivo de seguir Jesus Cristo, enquanto consagrados e consagradas. Acredito que este espaço educativo e religioso que é o ISTA nos proporciona maturidade vocacional e permite crescer humanamente.

O curso de Gestão Pastoral tem como objetivo em sua missão “Atuar solidária e efetivamente para o desenvolvimento integral da pessoa humana e da sociedade, por meio da geração e comunhão de saber, comprometido com a qualidade e os valores éticos e cristãos na busca da verdade.”[1] Essa dinâmica, pensada pelos fundadores do Instituto, proporciona aos alunos organizar um programa de estudo em conjunto com a ação pastoral. Aprendendo e convivendo passamos por um caminho cristão, como diz Ir. Afonso Murad no seu livro Gestão e Espiritualidade: “Ser gestor(a) é um aprendizado constante, que exige estudo, reflexão e revisão da própria prática. Liderar pessoas significa envolvê-las de forma que assumam a sua responsabilidade e se sintam estimuladas a dar o melhor de si. Coordenar processos, por sua vez, quer dizer: estabelecer metas (aonde queremos chegar), tecer estratégias, realizar atividades, avaliá-las e aprender com elas. Um ‘processo’ é mais do que fazer coisas, pois tem um começo, um meio e um fim, que se alimenta novamente e impulsiona mudanças.”

Nossa caminhada enquanto estudantes de Gestão Pastoral perpassa por esse processo. Aqui nos reunimos e estudamos, é o começo para idealizarmos projetos de missão solidária, somos desafiados a ir sempre mais além; quando a missão condiz com o seguimento e o projeto de Jesus Cristo, ir além é ter como foco principal nessa missão os pobres, aqueles que estão abandonados e marginalizados da sociedade. Sedentos da Boa Nova de Cristo. Indo a estes, alimentamos nossa fé porque também somos evangelizados por eles.

Creio que, com a nossa vivência fraterna na sala de aula e na academia, o curso se torna cada vez mais gostoso, prazeroso, nos transmitindo ânimo e certamente nos cativando. Vamos a cada dia que se passa dando um rosto à “Gestão Pastoral” como nossa casa, nosso ambiente, nosso chão. Neste caminho pedagógico vivemos a profundidade que os fundadores propuseram no objetivo do curso e a proposta cristã em nossas vidas torna-se uma experiência vocacional.


[1] Disponível em: <www.ista.edu.br>. Acesso em: 20 maio 2009.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A teologia libertador-ecológica em Leonardo Boff

“A sabedoria maya [...][Popol-Vuh e nos Livros de
Chilam Balam][ensina que] o universo é construído e
mantido por energias cósmicas pelo Criador e
Formador de tudo. O que existe na natureza nasceu do
encontro de amor entre o Coração do Céu com o
Coração da Terra.[...] Os seres humanos são vistos
como ‘os filhos e filhas esclarecidos, os averiguadores
e buscadores da existência’.[...][O ser humano]
‘conhece o que está perto e o que está longe’. Mas sua
característica é ter coração. Por isso ‘sente
perfeitamente, percebe o Universo, a Fonte da vida’ e
pulsa ao ritmo do Coração do Céu e do Coração da
Terra.”

Leonardo Boff

Antes de iniciar a reflexão sobre a teologia libertador-ecológica, é importante recordar que Leonardo Boff é um grande nome que esteve envolvido no surgimento da Teologia da Libertação, nas reflexões sobre a marginalização e a opção da Igreja pelos pobres. Diante dessa opção e o caminho trilhado, se enveredou na questão ecológica: fazemos parte de um todo criado, e quando Gaia não está bem, também nós não estamos.


Vivemos um tempo em que a natureza perdeu seu valor real, e assumiu um valor comercial. Florestas são dizimadas sem se pensar nas consequências, rios são poluídos, o ar nas grandes metrópoles é irrespirável, os seres são “coisificados” e, nessa dinâmica, o próprio ser humano é reduzido. Já caminhando contrário a essa situação, Boff afirma no seu artigo A força curativa da ecologia interior: A partir da ecologia interior, a Terra, o sol, a lua, as árvores, as montanhas e os animais não estão apenas aí fora, mas vivem em nós como figuras e símbolos carregados de emoção. É um convite para iniciarmos o diálogo com a natureza.


Em outro artigo, Eco-simplicidade, ele afirma: O que se opõe à nossa cultura de excessos e complicações é a vivência da simplicidade, a mais humana de todas as virtudes, presente em todas as demais. Hoje, nos perdemos diante de tantas ofertas, tantas necessidades criadas como essenciais à sobrevivência. Não se pensa que, quanto mais se consome, mais destruído é o planeta, e que na maioria das vezes, de forma irrecuperável. Nossa mãe Terra é suficiente para todos nós, a partir do momento em que aprendemos a conviver nela e com ela. Bem dizia Gandhi: Temos que aprender a viver mais simplesmente para que os outros simplesmente possam viver.


Falamos em nos fazer pequenos com os pequenos, menores com os menores e nos esquecemos de nos fazer terra com a Terra. Quando atingimos tal estado de espiritualidade, nos percebemos parte integrante da criação, irmãos de todas as criaturas, experiência essa vivida por Francisco de Assis. Boff é muito claro em sua teologia. No mesmo artigo citado anteriormente, Eco-simplicidade, ele afirma: A nova cosmologia nos afirma que a Terra é o grande sujeito vivo que através de nós sente, ama, pensa, cuida e venera. Consequentemente importa pensarmos como Terra, sentirmos como Terra, amarmos como Terra, pois, na verdade, somos Terra, espécie homo, feito de húmus, de terra boa e fértil.


Ele nos fala também de quatro grandes vertentes da ecologia. A primeira, uma ecologia ambiental, que nos fala do próprio meio ambiente, uma busca por melhor qualidade de vida e de preservação das espécies; sem isso, podemos um dia inviabilizar a permanência do homem na Terra. A segunda é uma ecologia social, que propõe um desenvolvimento sustentável, que irá suprir as necessidades básicas da população, sem o desgaste da natureza. O bem estar não pode ser apenas da sociedade, mas também do cosmo, dos animais, plantas, rios. A terceira, ecologia mental, declara que a atual situação não é consequência apenas de atos, mas de uma mentalidade presente na sociedade. O homem se coloca acima da natureza e não em posição de irmão de toda criatura. A quarta ecologia é a integral, que busca colocar o homem numa posição de visão global e holística, fazendo-o compreender-se como parte dessa totalidade.


Diante desse modo de ver a Teologia, Leonardo, no seu artigo Desafios Ecológicos do Fim do Milênio, afirma: O cristianismo é levado a aprofundar a dimensão cósmica da encarnação, da inabitação do espírito da natureza e do panenteísmo, segundo o qual Deus está em tudo e tudo está em Deus. Precisamos, então, nos reconciliar com nosso planeta, trabalhar por uma relação fraterna, sentirmos que nosso coração bate uníssono com o coração da natureza, que fazemos parte dessa grande energia cósmica e assim, estar em sintonia com o Criador.

Teologia da Libertação, luz para a realidade e caminho para a prática pastoral

Um olhar atento e crítico para a atual realidade faz-nos deparar com de duas situações que vêm se perpetuando há muito tempo: o crescimento da pobreza e a desigualdade social. Basta percebermos o grande abismo que separa ricos e pobres e o contexto de falta de oportunidades que atinge esse segundo grupo. É perceptível aos olhos de qualquer um a realidade de exclusão daqueles que sempre estiveram à margem, como os pobres, negros, mulheres, indígenas e tantos outros, vitimados por toda uma estrutura social que é moldada pelo crescente individualismo e o interesse desenfreado no lucro. Esse contexto apresentado nos leva a tomar consciência das contradições da nossa sociedade e, principalmente, como a nossa condição de cristãos e a vivência de nossa fé nos questionam e nos desafiam a assumirmos uma postura iluminadora que aponte caminhos para a construção de um novo modelo de sociedade e uma Igreja comprometida com a promoção de seu povo.

Do ponto de vista eclesial, essa realidade nos leva a perguntar-nos: como nossa prática cristã tem contribuído para superar tal situação? Esse questionamento é algo que sempre ficou a nos provocar. Na Igreja latino-americana podemos apontar o surgimento não de uma nova teologia, mas de um “novo jeito de fazer teologia”, fundamentado numa compreensão e vivência da fé calcada na realidade, ou seja, uma nova forma de viver a experiência da fé que nos fortalece e nos possibilita buscar meios para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É o nascimento da Teologia da Libertação.

A Teologia da Libertação surge na década de 60 a partir de um contexto histórico marcado por muitas contradições. A América Latina vive um momento de emergência das ditaduras militares, no qual são podadas a liberdade de expressão e toda forma de oposição a esse regime político. No campo eclesial temos a realização de um grande marco que é o Concílio Vaticano II. Este significou a abertura da Igreja para o diálogo com a modernidade e uma intervenção maior dentro da realidade social. No campo da cultura vários movimentos surgem como forma de expressão de contrariedade à ordem social vigente, como o Tropicalismo. Esses são alguns acontecimentos que nos ajudam a perceber como todo esse ambiente favoreceu o nascimento de uma teologia comprometida com a transformação da realidade na busca por uma sociedade mais justa e uma Igreja comprometida com os empobrecidos.

A partir do que foi retratado acima, percebemos que esse foi um “chão” propício para o nascimento da Teologia da Libertação como “um movimento teológico que quer mostrar aos cristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela pode contribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora (MONDIN, 1980, p.25). O termo libertação foi cunhado a partir da realidade cultural, social, econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir das décadas de 60/70 do último século. Os teólogos desse período, católicos e protestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico”.

Essa teologia “utiliza como ponto de partida de sua reflexão a situação de pobreza e exclusão social à luz da fé cristã. Essa situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas” e a realidade de pobreza “é denunciada como pecado estrutural, por isso se propõe o engajamento político dos cristãos na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Uma característica da Teologia da Libertação é considerar o pobre, não um objeto de caridade, mas sujeito de sua própria libertação. Assim, seus teólogos propõem uma pastoral baseada nas comunidades eclesiais de base, nas quais os cristãos das classes populares se reúnem para articular fé e vida, e juntos se organizam em busca de melhorias de suas condições sociais, através da militância no movimento social ou através da política, tornando-se protagonistas do processo de libertação. Além disto, apresentam as Comunidades Eclesiais de Base como uma nova forma de ser igreja, com forte vivência comunitária, solidária e participativa.”

A compreensão de Teologia da Libertação como vivência de fé comprometida com a transformação social nos ajuda a percebê-la como luzeiro que ilumina nossa prática pastoral. A partir disso “podemos dizer que Pastoral é uma ação transformadora voltada para o trabalho da Igreja missionária, atividades comunitárias e sociais, ensinando e aprendendo os valores cristãos. Pastoral é a ação da Igreja no mundo, onde devemos levar em consideração a pessoa no seu todo: espiritual, biológica, social, econômica e culturalmente.”

Isso nos ajuda a compreender prática pastoral como a ação concreta da Igreja que, diante de uma determinada realidade, tem por objetivo apontar luzes e agir em favor da promoção da pessoa humana, em sinal de fidelidade ao legado que Jesus nos deixou: “que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10). Somos desafiados a buscar uma compreensão de fé mais comprometida com a evangelização e a ação no mundo, como nos fala o Documento Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI: “É impossível aceitar que a obra da evangelização possa ou deva negligenciar os problemas extremamente graves, agitados sobremaneira hoje em dia, pelo que se refere à justiça, à libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo. Se isso porventura ocorresse, seria ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor para com o próximo que sofre ou se encontra em necessidade”.

Teologia da libertação aliada à prática pastoral é um instrumento que nos ajuda ver a realidade a partir dos olhos de Deus, revelado nos pequeninos e marginalizados da nossa sociedade. É um sinal de luz que nos aponta caminhos e nos faz perceber que nossa prática pastoral só faz sentido na medida em que nos motiva a lutar pela construção de uma sociedade justa e solidária e uma Igreja verdadeiramente comprometida com a construção do Reino, que seja, de fato, “casa” de todos aqueles que acreditam na utopia de um mundo novo construído a partir da igualdade e relações fraternas. Eis aí o desafio lançado: fazer de nossa ação pastoral um caminho de libertação e promoção da pessoa humana.

Gestão Pastoral: um exercício de profetismo!

As discussões iniciadas por ocasião da reunião dos provinciais sobre a continuidade ou parceria do ISTA com a PUC me levaram a pensar sobre a identidade do Instituto, mais ainda, sobre a natureza do curso de Gestão Pastoral, que é visto com tão pouca importância dentro do contexto da faculdade. Se o ISTA se apresenta como um Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos dos Religiosos, me coloco na perspectiva de quem se sente deslocado nessa discussão, uma vez que como religiosos e religiosas prezamos por nossa identidade de profetas e profetizas que passa a entrar em cheque diante dessa realidade.

Na carta produzida pelos alunos, diga-se de passagem que foi iniciativa dos alunos do curso de Gestão, o que mais me chamou a atenção é a ênfase dada ao fato de o Instituto ser específico para a Vida Religiosa formando profetas e profetizas. A partir daí me vieram questionamentos que acredito serem pertinentes e que nos ajudam a nortear a reflexão: que profetismo tem exercido o Instituto na Igreja local de Belo Horizonte? Qual é a atuação dos acadêmicos nas discussões dos grandes temas da vida da Igreja? O que de fato compreendemos como profetismo? O que temos feito para resguardar nossa identidade enquanto Instituto? Por onde tem passado a paixão e o desejo de transformar a realidade? O que temos feito para que, mais que um centro acadêmico, o ISTA seja reconhecido pelo seu ideal de formação integral de agentes transformadores da realidade?

Creio que a profundidade desta discussão mereça alguns esclarecimentos conceituais. Segundo Augusto Matos, teólogo que escreve no sítio da congregação dos Salvatorianos, “o movimento profético brota da experiência de Deus feita pelo profeta e das dificuldades vividas no meio do povo. Eles é que vão denunciar a corrupção e anunciar um Deus que se faz presente no meio do povo”. Daí me vêm outras perguntas: que reflexos de nossas discussões acadêmicas têm surgido a partir do grito do povo? A experiência acadêmica tem dado conta de traduzir em conceitos a experiência de Deus para transformá-la numa práxis engajada?

Nelson Gervori, pastor protestante e coordenador de Assuntos Ecumênicos do Movimento Evangélico Progressista de São Paulo, afirma que “a postura profética histórica nos propõe uma interessante e oportuna reflexão sobre o nosso papel como profetas da atualidade, quer sejamos pastores, padres, teólogos, igreja ou entidades paraeclesiais. Aponta para uma revisão da relação entre profecia e sociedade e poder na pós-modernidade”. A teóloga Tereza Cavalcanti assinala que “o profetismo é também o anúncio da esperança, da utopia que buscamos e que não nos deixa desanimar, porque temos a promessa o futuro, assim como já conduziu os passos dos profetas e pais que nos precederam na fé”.

Ancorado nessas falas, afirmo que estamos um pouco distantes dessa realidade profética de que tanto nos gabamos. Acredito, porém, na possibilidade de tornar real aquilo em que pensamos ser o fundamento da vida religiosa. O compromisso com a transformação deve ser algo que pulse nas nossas veias e o conhecimento acadêmico vem apenas nos fornecer elementos para que possamos, com maturidade e menos amadorismo, construir a sociedade em que acreditamos, a “Civilização do Amor”. Não sendo indiferentes ao mundo que está à nossa volta e que pede de nós atitudes concretas e com qualidade, podemos ser arautos da esperança, promotores da paz, agentes da justiça.

Vislumbro no curso de Gestão Pastoral o caminho para o Profetismo do Instituto. Este que é pensado para ser um curso mais “tecnólogo” sistematiza de forma genial a teoria e a prática possibilitando aos alunos uma nova práxis. Não deixando de lado os outros cursos do ISTA, o Gestão oferece um campo maior de atuação: além da visão mais próxima da realidade, possibilita aos alunos um contato maior com o povo e uma experiência diferenciada de Deus. Este curso, se bem articulado e conduzido, pode se tornar o meio que ajude o Instituto ser aquilo a que foi chamado a ser, desde a sua fundação. Nas palavras do atual diretor executivo do Instituto, padre Manoel Godoy, “um Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos dos Religiosos, que garanta a formação intelectual e pastoral, em nível superior, dos estudantes de congregações religiosas e leigos, tornando-os capazes de atuarem na sociedade, alicerçados numa autêntica justiça e ética cristãs”.