quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Jovem como espaço teológico



“Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem,
como nossa semelhança.
Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou,
homem e mulher ele os criou”
(Gn. 1, 26a.27).


Pensar o jovem e a jovem como espaços teológicos é pensar primeiramente num Deus que os criou à sua imagem e semelhança, homem e mulher, com um corpo, sexualidade, sentimentos, fantasias e desejos que lhe são próprios. Deus contemplou a sua criação e viu que tudo era muito bonito, tudo era bom. O salmista fez menção a esta realidade, falando do grande amor e cuidado de Deus para com a humanidade - Sl 8,5 : “Quem é o ser humano pra tanto cuidado merecer?”.

O Deus da Juventude é o Deus da festa, da música, da dança, da alegria de viver. O Deus do encontro, do contato com o outro, que se estende ao cuidado com a natureza. Um Deus ousado, que vence barreiras, que quebra preconceitos, que acolhe o diferente. O Deus da comunhão de corpos e ritmos, de diversos credos, numa sinfonia única chamada juventude.

Diante de tudo isso começam a surgir alguns questionamentos:
· Como evangelizar a juventude com espaços e ritos tão antigos?
· Que meios utilizar para tornar viva e atual a palavra de Deus?
· Como acolher a novidade da juventude se estamos presos a esquemas do passado?

O primeiro passo seria adotarmos uma postura de humildade diante dos jovens, assumir nossas fraquezas, reconhecer que não temos resposta para tudo, que não sabemos direito como evangelizá-los e que eles às vezes nos assustam.

Temos também que nos perguntar o que é evangelizar, porque muitas vezes achamos que somos os detentores de Deus e que devemos levá-lo aos que não O têm, ignorando a realidade das pessoas, sua cultura e experiência de Sagrado que cada um traz em si. O resultado na maioria das vezes é desastroso.

Ver o jovem como espaço do Divino é fazer um movimento contrário, não levar Deus aos jovens, mas buscar Deus presente neles. É deixar-se evangelizar pelos jovens, contaminar-se com sua alegria e vitalidade. Estar junto, caminhar lado, fazer poesia, viver grandes ideais e paixões. Sonhar com as coisas impossíveis e acreditar que é possível realizá-las. Ter desejos, sentir tesão pela vida. Ficar junto do jovem quando todos lhes derem as costas, saborear as alegrias e desilusões da vida e silenciar quando as palavras não puderem descrever o que se sente.

O Divino no jovem nos questiona, chama a atenção para ver a realidade de forma diferente; desinstala, faz ver a presença de Deus nas diferentes realidades e culturas juvenis, ver o Sagrado na cultura hip-hop, skatistas, funk, reggae, góticos, punks, emos... Se quisermos entender a juventude, somos chamados a ter um novo olhar sobre o fenômeno juvenil. E naqueles ambientes onde os jovens estão perdendo seu espaço, sendo esmagados pelo sistema excludente que os trata como mercadoria, rouba-lhes os sonhos, tiram-lhe o gosto pela vida e o brilho do olhar, é que nossa presença se faz necessária para ajudá-los a resgatar a dignidade perdida e descobrir o Deus que existe neles e que os criou para a vida plena.

Chamo atenção também para o outro lado da questão que é o da sacralização do jovem, onde de forma errada o jovem é visto como templo de Deus e deve ser afastado das “coisas do mundo” porque são pecaminosas. Em nome de “certa moralidade” acabam colocando um peso na vida do jovem. Infelizmente hoje dentro de nossa Igreja vemos surgir muitos grupos e movimentos com essa visão negativa do corpo e dos desejos que dele emanam. Os jovens acabam se sentindo culpados por causa de seus desejos e questões referentes ao sexo, coisas que são muito naturais na fase em que estão vivendo. Esse tipo de Igreja em vez de libertar acaba escravizando ainda mais os jovens, afastando-os de Deus. Aqueles jovens que são mais esclarecidos se afastam da Igreja, pois acreditam que podem muito bem viver sem ela.

Finalizo este texto fazendo um paralelo com a passagem bíblica da sarça ardente, que longe de ser uma interpretação teológica, simboliza minha idéia sobre o jovem como espaço do Divino:
”O anjo de Javé apareceu a Moisés numa chama de fogo no meio de uma sarça. Moisés prestou atenção: a sarça ardia no fogo, mas não se consumia”. (Ex.3,2).

Essa imagem representa bem a realidade do jovem, confuso, mas cheio de significado. É algo que queima sem se consumir, uma mistura de sentimentos e emoções. Num momento querem conquistar o mundo e em outro momento não estão nem aí pra nada. São movidos pela paixão e capazes de dar à vida por um ideal, e podem ser também altamente egoístas. Mas é nessa realidade que se encontra a presença de Deus, é o espaço de manifestação do Sagrado. Assim como Moisés, queremos chegar mais perto, entender melhor, e Deus nos convida a tirarmos as sandálias. Somos convidados a nos despojar de todos os preconceitos, tirar as sandálias do poder e da autoridade, pois o chão da juventude é um chão sagrado, que nos convida a fazer a experiência do Deus libertador que vê, ouve e vem ao nosso encontro.

Um comentário:

  1. É isso mesmo, Edvaldo! Concordo com você e aposto no trabalho realizado próximo à juventude. Parabéns por esta e por outras empreitadas!
    helena contaldo

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